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  • Foto do escritorMariana Fernandes

Augusto Corrente: de metaleiro a Minhoto Maroto

Atualizado: 30 de nov. de 2020

“José Augusto Pereira Lemos aka Zeca aka Augusto Corrente”. É assim que Augusto Corrente se apresenta, enumerando os nomes que representam as várias facetas da sua vida. Augusto Corrente nasceu da necessidade de ter uma identidade artística e para se separar do Zeca, o amigo.


Desde novo que interage com a música e foi no Metal que se encontrou. No entanto, há 10 anos deu de caras com um género totalmente diferente em que a concertina é rainha, e ingressou como baixista nos Minhotos Marotos, grupo musical oriundo de Guimarães.


“Sempre consegui viver da música, na verdade”. Augusto Corrente conta que enquanto frequentava o curso de Geografia e Planeamento, ganhava dinheiro a tocar baixo em concertos e posteriormente a ensinar. A exceção é “este ano que estamos a viver agora”.


Há 10 anos foi um “ponto de viragem”. Foi nessa altura que, através de uma audição, passou a fazer parte dos Minhotos Marotos e decidiu viver somente da música e da guitarra por não conseguir emprego na área da sua formação. 2020 está a ser o palco de uma nova viragem. Augusto Corrente tornou-se pai e deixou de receber qualquer fonte de rendimento devido ao confinamento obrigatório decretado em março.


Quando Augusto entrou nos Minhotos, ainda não eram conhecidos, mas a “banda tem vindo a crescer”. Graças ao grupo musical, passou a dar mais valor “às raízes do tradicional português” e acredita que deviam ser mais valorizadas. Em 2019, ano em que festejaram 10 anos, o futuro parecia promissor para os Minhotos Marotos, com cerca de 70 concertos marcados ao longo de 2020. Nenhum deles se realizou e, mesmo com o desconfinamento, as empresas têm medo de organizar estes eventos.

No caso particular de Guimarães, as salas de espetáculos estiveram temporariamente fechadas, devido a uma fotografia publicada pela humorista Ana Garcia Martins (A Pipoca Mais Doce) de um espetáculo de comédia em que participou. Esta dava a entender que as cerca de mil pessoas – número permitido pela DGS com o devido distanciamento – estavam sentadas sem a distância adequada.

Augusto Corrente lamenta a decisão da Câmara Municipal de ter cedido a uma polémica nas redes sociais. “O politicamente correto é o pior que nos está a acontecer”.


Derivado desta decisão, um dos espaços frequentados por Augusto Corrente ficou na corda bamba. A Tribuna, café-concerto no Teatro São Mamede em Guimarães, onde se realizam as Jam Sessions organizadas por Corrente, tentou adaptar-se e acompanhar a informação abundante.

As quintas à noite na Tribuna atraíam cerca de 200 pessoas. Nestas sessões musicais, os músicos participavam sem compromisso. Outubro era data de abertura, e num evento onde as pessoas estão de pé, houve investimento em mesas e cadeiras, para que os espetadores se sentassem e assegurassem a distância de dois metros. Contudo, o fecho dos estabelecimentos às 22h30 impediu que as Jam Sessions perdurassem.


Augusto Corrente sobrevive graças às aulas de guitarra. “Depois da quarentena tive alguns alunos que pararam, mas entraram novos, por isso a média está mais ou menos a mesma”. Torna-se difícil não interagir com o aluno e não lhe tocar nas mãos de modo a sentir cada nota. O guitarrista dá aulas no Workshop Music de forma “ mais profissional e com um número de alunos mais sustentável”, mas começou por ensinar baixo a dois amigos do curso.

Contudo, nem todos os Minhotos Marotos tinham fontes de rendimento fora dos concertos. Alguns procuraram novos empregos que nunca lhes dará aquilo que a música dava. A banda vimaranense está inscrita na GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas. A cada um foi oferecido um cartão de compras no valor de 200€. “Isso não é nada, é uma ida ao supermercado”.


A falta de público e de concertos causa um “efeito dominó” que começa nos artistas e termina nas produtoras, nas carrinhas de farturas, nos carrosséis, e nas pessoas que suportam a atividade cultural. Augusto Corrente confessa que “o desenrasque” está na essência dos músicos. Algo que não acontece com estes funcionários que têm famílias para sustentar e que a sobrevivência depende da realização dos espetáculos e feiras.


Como muitos artistas, Augusto Corrente tenta sobreviver. Pior que a falta do espetáculo, é o medo que fica de os organizadores das festas considerarem a música tradicional desnecessária. “Não sei porquê, mas sinto que é algo que está latente. Essa hipótese de a Cultura ficar adormecida”. Contudo, mantém a esperança e mostra-se otimista pelo futuro. Até porque o gosto pelo tradicional “está-nos no sangue”.


Devido à pandemia, muitos portugueses ficaram fragilizados, entre eles os que vivem da Cultura e da presença do público. “Eu quero fazer da música vida mas não quero sobreviver, quero viver à vontade” é uma espécie de lema que Augusto Corrente sempre seguiu e ainda segue. 2020 impediu que isso continuasse. Enquanto sobrevive, mantém-se a vontade de voltar para perto do baixo, do palco e do público.

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